Em 2010, Guto Parente ao lado de Pedro Diógenes, Luiz Pretti e Ricardo Pretti levaram o prêmio da Mostra Aurora na Mostra de Cinema de Tiradentes por Estada Para Ythaca e que estabelece um cinema que se atenta às novas possibilidades de produção e que desafiava os modos de distribuição e programação de filmes brasileiros no circuito. Filmes que dialogavam com o momento que se filmava, não esperavam o resultado de inscrição de editais, de baixo orçamento, com equipe multifuncional e muitos fora do eixo Rio-São Paulo. Em Ythaca, os diretores são os protagonistas, por exemplo. O despretensiosamente chamado Novíssimo Cinema Brasileiro foi gancho para iniciativas como a Semana dos Realizadores, que, por mais de uma década, apresentou novos diretores e filmes que estavam à margem da distribuição nos cinemas. Ythaca também é um marco neste sentido: foi o primeiro filme distribuído pela Vitrine Filmes, distribuidora que começa de forma independente e toma um notável caminho crescente. Enquanto o cinema brasilero se distanciava a largos passos do imaginário inerentemente comercial e televisivo, Guto Parente dava seus primeiros passos nos longas-metragens sem a presença dos amigos de Alumbramento. Doce Amianto, co-dirigido por Uirá dos Reis, uma fábula que opera no campo da sugestão e salienta o modus operandi dos diretores  - mas sem tirar um grão da experiência camp. Em parceria com Ticiana Augusto Lima, Guto toma um caminho já sinalizado em seus curtas, o cinema de gênero: A Misteriosa Morte de Pérola, filme que segue a gramática de realizadores como Franju, Eugène Green e Brisseau e toma a força da expressão ante às palavras. A carreira de Guto passa por O Estranho Caso de Ezequiel, uma ficção fantástica de fusões complexas ao existencialismo (o mesmo pode ser dito de Estranho Caminho) ao jogo gore de O Clube dos Canibais numa chave crítica contemporânea ainda que suas referências estejam no cinema de horror de outrora. Morte e Vida Madalena e Inferninho, este último co-dirigido pelo parceiro de longa data Pedro Diógenes, parece voltar os olhos à adaptação do dia a dia na ordem da tolerância. São filmes que dialogam como um suporte à base de fábulas para aturar o real. No entanto, não se trata de filmes-escapismo e sim de narrativas que salientam personagens que dialogam com uma simples possibilidade: eles podem representar um dos espectadores. O cinema de Guto carrega forte aura de terror, dos mais variados tipos e funções mesmo quando estamos diante de alegorias antagônicas como a possibilidade de viver o horror ao sol ou rir da desgraça mais obscura e isso o transforma como uma das figuras mais interessantes do cinema brasileiro contemporâneo. Esta ambivalência está impressa também nos curtas, que, ainda como membro da Alumbramento, Guto segue uma lógica de dispositivo que muitas vezes dialoga com muitos gêneros, do documentário à ficção científica. Eu Turista, O Saco Azul e Flash Happy Society exemplificam isto. Em 2012, após uma intensa fase de produção com três longas da Alumbramento (Ythaca (2010), Os Monstros (2011) e No Lugar Errado (2011)), Guto realiza Dizem que os cães veem coisas, último curta produzido até então. O Lumen com extrema alegria hospeda os filmes de Guto e linearmente exibe seus curtas e longas como forma de compreender sua relação com gêneros, formas de produção, e, principalmente, de ascensão da carreira de um grande diretor.

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Pedro Tavares

Curador e diretor do Lumen

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Agradecimentos especiais: Guto Parente, Ticiana Augusto Lima e Tardo Filmes, Daniel Queiroz, Rodrigo Camargos, Embaúba Filmes.