A Baixada Fluminense não é apenas um lugar geográfico. É um território de afetos, um rizoma de histórias, um manancial de criações. Por décadas, sua narrativa foi sequestrada por estereótipos que reduziram sua complexidade a simples estatísticas de carência. Hoje, porém, assistimos a um movimento irreversível: a emergência de uma poderosa corrente autoral que devolve ao próprio território o direito fundamental de contar a si mesmo. É no coração deste movimento que se consolida a parceria estratégica entre o Festival Lumen e o Gomeia Galpão Criativo, por meio de seu braço curatorial, o CINE Gomeia.

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Esta não é uma simples união de datas e espaços. É uma convergência de missões. O Festival Lumen chega com o propósito de iluminar, atuando como um farol que busca e valoriza o cinema de reflexão, educação e protagonismo juvenil. O Gomeia Galpão Criativo oferece o chão, o abrigo e a raiz. Mais do que um equipamento cultural, o Gomeia é um organismo vivo, um símbolo da resistência criativa da Baixada, com uma história tecida em oficinas, rodas e na luta por acesso. E, no centro desta sinergia, está o CINE Gomeia, a sala de cinema que se tornou um santuário para a exibição e a discussão do audiovisual local. Juntos, eles formam um ecossistema completo: o Gomeia fornece a infraestrutura e a legitimidade territorial; o CINE Gomeia, a expertise curatorial e a relação íntima com os realizadores; e o Festival Lumen, a amplitude, a visibilidade e a estrutura de uma programação nacional, criando um circuito virtuoso de valorização.

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A importância desta aliança se materializa na imensa e diversa produção audiovisual da Baixada que será exibida. A curadoria, assinada pelo CINE Gomeia, não se limita a projetar filmes; ela constrói uma cartografia sensível da região. Através de uma seleção que abrange documentário, ficção, terror, drama e filme-ensaio, testemunhamos a Baixada em sua pluralidade.

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Veremos a resistência espiritual em "Doné Conceição", de Nil Mendonça e Alex Eloi, e a celebração da fé popular em "São Jorge de Meriti", de Ricardo Rodrigues e Léo de Assis. A crítica social aguda se faz presente no drama "Tempestade de Mentiras", de Angela Santos, e na sátira política infanto-juvenil "Paçoca", de Marçal Vianna. A memória ecológica é resgatada pela poesia de "Memória das Águas", de Catu Rizo, enquanto a cena cultural underground ganha voz em "Duque de Caxias, O Albergue do Rock", de Guilherme Zani. A inventividade narrativa floresce no terror cômico de "Em Nome da Mãe", de Bruno Santiago e Gabriela Lima e na ficção científica contemplativa de "O Voo", de Igor Barradas.

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Cada um destes filmes é uma prova incontestável: a Baixada Fluminense não precisa de representantes externos. Ela possui seus próprios narradores, artistas que dominam a linguagem do cinema para traduzir a complexidade de seu povo, suas dores, suas alegrias e suas infinitas potências. A parceria entre o Festival Lumen e o Gomeia, com o CINE Gomeia, assegura que estas vozes não ecoem no vazio. Elas são amplificadas, legitimadas e oferecidas em diálogo com o mundo.

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Esta é, no fundo, uma iniciativa sobre o futuro. Ao criar um palco de prestígio para os cineastas da região, a parceria não apenas exibe filmes; ela planta sementes. Sementes de identidade positiva para as crianças e jovens que se verem na tela. Sementes de inspiração para a próxima geração de realizadores. Sementes de um novo imaginário, onde a Baixada Fluminense é, finalmente, reconhecida pelo que sempre foi: um celeiro transbordante de cultura, talento e histórias que o Brasil precisa, urgentemente, ouvir.

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Clara de Deus, Eduardo Prates e Tatch Pereira

curadores do programa da baixada